Enxameação natural

Como ocorre uma enxameação natural das abelhas sem ferrão?

Muita gente monta várias iscas, faz tudo certinho, espalha elas em vários lugares, mas a maioria das iscas não pega nenhum enxame de abelha. E quando pega, às vezes ocorre de o enxame chegar em casa, viver por um tempo, e não desenvolver. Principalmente iniciantes tem problemas com isso. Pois bem, isso tem uma explicação bem simples. Precisamos entender um pouco da biologia dessas abelhas, para entender por que isso acontece.

Isca feita com garrafa PET

Quando um enxame, seja na natureza ou no meliponário, está forte, e já não tem mais muito espaço para se desenvolver dentro do seu ninho, algumas operárias começam a procurar um lugar para construir um novo ninho. Elas saem de seu ninho a procura de cavidades ou ocos em árvores, entre rochas, cupinzeiros, ou então em uma isca montada por um meliponicultor sortudo. Algumas espécies são bem generalistas, fazendo seu ninho em qualquer tipo de substrato, outras espécies escolhem mais o local do novo ninho.

Quando uma operária encontra um local adequado, ela avisa as outras do seu ninho, e uma quantidade razoável de abelhas, então, começa a migrar para o novo local. Só que isto não ocorre de uma vez. Uma a uma, vão pegando material como cera, mel, própolis, do seu ninho velho, transportando esse material para o ninho novo. Elas continuam fazendo esta viagem entre o ninho-mãe e o ninho-filha durante vários dias, mas logo no primeiro dia um bom número de abelhas já começa a pernoitar no ninho novo. Com o material que pegam do ninho-mãe, começam a construir a estrutura do ninho novo, formando um pequeno estoque de mel e cera, principalmente. Já constroem a entrada do ninho e vão preparando tudo para a chegada da nova rainha. 

Enquanto isso, no ninho-mãe, já há pelo menos uma princesa sendo preparada. Nas abelhas do gênero Melipona, sempre há princesas disponíveis, que nessa época não são mortas. Nos outros gêneros, as abelhas constroem uma realeira, que tem mais espaço e, consequentemente, mais alimento que as outras células de cria. A larva que nascer ali, será uma princesa. Se a princesa nascer e ficar pronta antes que o ninho-filha esteja preparado, ou se o tempo não ajudar, as operárias podem prender a princesa em uma estrutura de cera grossa, chamada de prisão, de onde ela não sai e é alimentada na boca, até ser liberada.

Quando o ninho-filha está pronto para receber a rainha nova, a princesa, ainda virgem, é liberada do ninho-mãe. Os machos do próprio ninho e de outros da mesma espécie que existem na região, percebem este movimento bem antes da princesa sair, e ficam a espreita próximo da entrada do ninho-mãe. Assim que a princesa sai, ela levanta voo, e voa bem alto, sendo seguida pelos machos. O acasalamento ocorre fora do ninho. 

Após o acasalamento, a princesa, já fecundada, é guiada pelas operárias até o ninho novo, onde ela toma a posição de rainha, e dentro de poucos dias começa a postura.

As operárias que pertenciam ao ninho-mãe continuam trazendo material do ninho-mãe durante algum tempo, até que o vínculo é rompido completamente. Neste momento, a filha se torna completamente independente.

Por que, então, muitas iscas não pegam enxames? Essa é fácil de responder: nem todos os ninhos da região enxameiam todos os anos, e quando enxameiam, podem encontrar outros locais adequados. Com o atrativo feito a partir da geoprópolis de abelhas sem ferrão, aumentamos as chances de alguma abelha encontrar a isca pelo cheiro, quando ela estiver a procura de um novo ninho. Mas é perfeitamente possível que uma abelha encontre a isca mesmo sem o atrativo, assim como pode acontecer delas rejeitar a isca apesar do atrativo, e preferir outro local. É preciso um pouco de sorte para que as abelhas realmente enxameiem para dentro de uma isca. Mas, como vemos pelo sucesso de muitas iscas, dá certo!

Por fora, não é possível ver se a princesa já chegou ao ninho novo.
Não é possível detectar se já há postura, apenas olhando
a isca por fora. É melhor esperar algumas semanas.

E por que alguns enxames não desenvolvem depois de transferi-los da isca para a caixa? Isso normalmente tem a ver com a rainha nova. Como as abelhas começam a construir o ninho antes da chegada da princesa, muitos acham que a enxameação já ocorreu completamente, quando a princesa nem chegou ainda. Exteriormente, não tem como saber com certeza se a princesa já está na isca ou não. Dependendo da espécie e das condições climáticas, a chegada pode demorar mais ou menos. Então, o melhor a se fazer é esperar algumas semanas após o primeiro avistamento das abelhas na entrada da isca. Ainda por cima, quando se remove a isca muito cedo, as operárias não tem tempo, mesmo depois da chegada da princesa, de terminar de trazer todo o material necessário do ninho-mãe, resultando em um ninho-filha mais fraco inicialmente. É melhor ter paciência. Na medida do possível, é até recomendável fazer a transferência da isca para a caixa racional, e deixar a caixa no local da isca por mais algumas semanas.